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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Senhora da Noite

Autor: Hélia Correia
Intérprete: Mísia
Álbum: Senhora da Noite (2011)


Quem passar à minha beira
Não vê de mim nem sinal
Que eu apenas sou real
Sob a noite azul inteira
Que eu nasci à sexta-feira
Sem conhecer nem pai, nem mãe, nem mal
Tive a loba por parteira
E da aranha tecedeira
Recebi meu enxoval


Nasci sobre o chão divino
Tenho as grutas por morada
E eu sou da terra salgada
Não tenho medo de nada
Nem mesmo até do destino
E há um mistério felino
Na minha saia rodada
Só de a vestir imagino
Que sou feiticeira e fada
As próprias trevas fascino
E esconjuro a madrugada


Quando a lua se levanta
É que eu sinto na garganta
A vontade de cantar
E ela põe na minha mesa
Licores de prata e beleza
Que me levam pelo ar
E quando o dia ameaça
É como se uma mordaça
Me emudecesse outra vez
E o meu grito de bacante
Arde como eu num instante
No fogo que a manhã fez



Tarde Longa

Autor: Lídia Jorge
Intérprete: Mísia
Álbum: Senhora da Noite (2011)





Se eu for à casa do amor
Hei-de encontrar-te sentado
À espera que eu me dispa
Conforme foi combinado

E se a tarde for inteira
Nessa pátria a que pertenço
Ficaremos abraçados
Estendidos como num lenço

Ah, quem me dera que os céus
Fossem mais largos, mais fundos,
Despidos somos de deus,
Vestidos somos do mundo

Mas de nós mesmos seremos
Se a tarde for tão comprida
Que o mesmo lenço se estenda
Ao longo de toda a vida



segunda-feira, 23 de maio de 2011

Garras dos Sentidos

Autor: Agustina Bessa-Luís
Intérprete: Mísia
Álbum: Garras dos Sentidos (1998)
 
 
Não quero cantar amores,
Amores são passos perdidos.
São frios raios solares,
Verdes garras dos sentidos.

São cavalos corredores
Com asas de ferro e chumbo,
Caídos nas águas fundas.
Não quero cantar amores.

Paraísos proibidos,
Contentamentos injustos,
Feliz adversidade,
Amores são passos perdidos.

São demência dos olhares,
Alegre festa de pranto.
São furor obediente,
São frios raios solares.

Da má sorte defendidos
Os homens de bom juízo
Têm nas mãos prodigiosas
Verdes garras dos sentidos.

Não quero cantar amores
Nem falar dos seus motivos.

Fado do Retorno

Autor: Lídia Jorge
Intérprete: Mísia
Álbum: Garras dos Sentidos (1998)
Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=nH1Pl8xqknQ


Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste, já voltaste
Já entras como sempre
Abrandas os teus passos
E páras no tapete

Então que uma luz arda
E assim o fogo aqueça
Os dedos bem unidos
Movidos pela pressa

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Voltaste, já voltei
Também cheia de pressa
De dar-te, na parede
O beijo que me peças

Então que a sombra agite
E assim a imagem faça
Os rostos de nós dois
Tocados pela graça.

Amor, é muito cedo
E tarde uma palavra
A noite uma lembrança
Que não escurece nada

Amor, o que será
Mais certo que o futuro
Se nele é para habitar
A escolha do mais puro

Já fuma o nosso fumo
Já sobra a nossa manta
Já veio o nosso sono
Fechar-nos a garganta

Então que os cílios olhem 
E assim a casa seja
A árvore do Outono
Coberta de cerejas.

Conjugar Lisboa

Autor: Rosa Lobato de Faria
Intérprete: Mísia
Álbum: Ruas (2010)


Esta Lisboa princesa 
Filha Estrela da Mãe d' Água
Alfama minha tristeza
Chafariz da minha mágoa

Bate sonhos em Castelo
No Desterro do cansaço
Com Pontinhas de cabelo
No Terreiro aonde Paço

Restelos d que eu vivi
Benficam noutras Mercês
Quando eu Rossio por ti
Portamos Cais do Sodrés

Mas quando tu me Xabregas
Não me deixo Saldanhar
Só te Tejo se navegas
Nas ondas do Lumiar

E porque Politeamo
Picoas vez mais
À janela me Moiramo
A ver se és tu que Olivais

 Eu Areeiro, tu Chelas 
Se ela Parque, Amoreiras
Mas se Intendente dou por ela
Que Marvila de Telheiras

Ando a conjugar Lisboa
A ver se o Salitre passa
Pois nada nos Madragoa
Se é feito com ar de Graça.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Paixões Diagonais

Autor: João Monge
Intérprete: Mísia
Álbum: Paixões Diagonais (1999)
Para ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=2Fx_dRltqqQ



Do que fala a madrugada 
Os murmúrios na calçada
Os silêncios de licor
Do que fala a nostalgia
De uma estrela fugidia
Falam de nós, meu amor

Do que sabem as vielas
E a memória das janelas
Ancoradas no sol-pôr
Do que sabem os cristais
Das paixões diagonais
Sabem de nós, meu amor

Porque volta esta tristeza
O destino à nossa mesa
O silêncio de um andor
Porque volta tudo ao mar
Mesmo sem ter de voltar
Voltam por nós, meu amor

Porque parte tudo um dia
O que nos lábios ardia
Até não sermos ninguém
Tudo é água que corre
De cada vez que nos morre
Nasce um pouco mais além